A doença de Fabry, também conhecida como doença de Anderson-Fabry, é uma doença rara, de herança genética, ligada ao cromossomo X.1 É causada por uma alteração no gene GLA, que é o gene responsável pela produção de uma enzima chamada alfagalactosidase A (α-Gal A). Pessoas com variantes neste gene podem ter a enzima α-Gal A totalmente ou parcialmente defeituosa. Existem mais de 1.000 variantes possíveis descritas para o gene GLA.2
Quando esta enzima não funciona direito, as células do organismo não conseguem metabolizar substâncias conhecidas como glicoesfingolipídeos (tipo de molécula formada por gordura e carboidrato), que então se acumulam nas células do organismo.1
O principal glicoesfingolipídeo que se acumula nas células do organismo é a globotriaosilceramida, conhecida pela abreviatura Gb3 ou GL-3.1
Por causa do acúmulo de Gb3 nas células, a doença de Fabry é classificada como uma doença de depósito lisossômico, ou seja, apresenta depósitos de substâncias não metabolizadas dentro das células, mais especificamente, dentro dos lisossomos das células.1
O Gb3 pode se acumular em células de vários órgãos, principalmente da pele, rins, coração, cérebro e olhos. São esses depósitos que causam as manifestações da doença.1
A doença de Fabry clássica se manifesta quase exclusivamente em homens, e os sinais e sintomas aparecem na infância; além da forma clássica, existe a doença de Fabry de início tardio, com sintomas leves ou até mesmo quadros assintomáticos.3
Na doença de Fabry, a ausência ou baixa atividade da enzima α-Gal A faz com que a Gb3 acumule-se no endotélio vascular e nas células musculares lisas dos vasos, causando oclusão e isquemia.4 Acumula-se também nos gânglios autonômicos, nas células glomerulares, intersticiais e tubulares dos rins, nas células do músculo cardíaco, na córnea e na pele.4
O acúmulo do metabólito lyso-Gb3 também tem um papel importante na fisiopatologia da doença de Fabry (DF), porque além de inibir a atividade da α-Gal A, ela promove a proliferação de células musculares lisas, levando ao espessamento de artérias observado na doença de Fabry.4
Em última instância, o acúmulo de Gb3 e lyso-Gb3 causam inflamação, aumento do estresse oxidativo, disfunção mitocondrial e comprometimento dos mecanismos de autofagia das células. Todos esses fatores somados levam à lesão nos órgãos.4
1. Boggio P, Luna PC, Abad ME, Larralde M. Doença de Fabry. An Bras Dermatol; 84: 367–76 (2009)
2. Michaud M, Mauhin W, Belmatoug N, et al. When and How to Diagnose Fabry Disease in Clinical Pratice. Am J Med Sci. DOI: 10.1016/j.amjms.2020.07.011 (2020)
3. Bernardes TP, Foresto RD, Kirsztajn GM. Fabry disease: Genetics, pathology, and treatment. Rev Assoc Med Bras; 66: s10–6 (2020)
4. Miller JJ, Kanack AJ, Dahms NM. Progress in the understanding and treatment of Fabry disease. Biochim. Biophys. Acta - Gen. Subj.1864. DOI:10.1016/j.bbagen.2019.129437 (2020)